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19-03-2004

Velha e viúva “despejada” na Rua


Camarnal

Uma idosa, viúva, de setenta e tantos anos, anda em bolandas. Foi “despejada”, na manhã do último domingo, à porta de procurador de dois seus filhos, ausentes na América, coisa que já não é procedimento virgem da parte do genro e mulher a viverem na Amoreira da Gândara. Em causa estão quezílias familiares, nomeadamente a nível de “mesadas”. “FOI SEMPRE UMA MULHER MUITO BOA” - Que está aqui a fazer, ti Celene? - Estou a ver se tu me queres... - respondia Celene Dias Marques que, cerca das oito horas da manhã do último domingo, foi intencionalmente deixada frente à porta de Manuel Avelino, no Camarnal. Não em tenda, como chegou a ser ventilado pelo genro ao JB, há semanas, mas sentada em cadeira de praia, com o aconchego de dois cobertores e uma saca onde lhe haviam deixado alguma coisa que comesse. Os que passavam por ali reconhecia a ti Celene que sempre vivera ali na terra, vivendo do que os campos davam, questionavam-na invariavelmente sobre o que se estava a passar. “Não se faz isso a uma mãe, louvado seja Deus! Não é nenhum cão” - dizia mais uma vizinha, que acrescentava: “Deus queira que eu não chegue a isso”. “É uma tristeza deitar uma mãe na rua. É uma tristeza”, dizia outra que, no entanto, não deixava de realçar que “está bem tratada”. Na verdade, com setenta e tantos anos - não foi capaz de dizer a idade certa - “... setenta e tal, passou-me da ideia”, embora se desloque agarrada a umas muletas, o rosto ainda não está muito anavalhado de rugas e desgostos. Naturalmente que aquele era um grande desgosto. Apesar da situação insólita, não ouvimos uma palavra maldizente contra ninguém. Nem contra os filhos, nem contra o procurador. “Foi sempre uma mulher muito boa, foi sempre boa mãe, tenha pena dela”, reforçava a vizinha, Maria dos Anjos, que nos facultou uma cadeira para a necessária conversa. Por quê trazerem-na para ali? “Para ver se os meus filhos tinham mandado alguma coisa”, respondeu-nos com alguma tristeza. De quando em vez tecia num leve sorriso. HISTÓRIA E IMPASSE A história já a demos a conhecer, meias palavras, há semanas, julgando que este problema, com nítidos contornos de problemas de ordem familiar e algum desentendimento, ficasse por ali. António Maria e mulher azedaram razões e tomaram aquela atitude. É assim a história. A Ti Celene Dias Marques vive em casa da filha Maria, em Amoreira da Gândara, enquanto os outros dois filhos vivem na América, o António e a Dolores, que, desde o mês de Agosto, não pagam a mensalidade de cem contos. Segundo o procurador, Manuel Avelino, porque o genro, António Maria, exigia, para tratar da sogra nos meses que competiam a eles, mais vinte contos. Com a falta da remessa e independentemente do valor da reforma (salvo erro que nos garantiu serem 65 contos), é o impasse. Não se entendem. Por outro lado, o procurador nada pode fazer, segundo verberava, porque os emigrantes não lhe dão ordens concretas, “pague isto ou aquilo. Dizem que para Julho tratam dela”. De resto, estava a haver alguma dificuldade no contacto. Ainda no domingo de manhã, isso se verificou. Manuel Avelino limita-se a lamentar o caso e a dizer que “isto é uma chantagem. Eles é que se devem entender, que são família. Se eles disseram faça isto, eu faço, de contrário, não. Sou procurador, recebo ordens... Isto é tudo combinado. É uma chantagem”. Compreensiva para com o procurador que tinha contactado já a GNR de Oliveira do Bairro que prometeu pôr a GNR de Anadia em contacto com o genro e filha em Amoreira da Gândara, estava a simpática idosa: “se não tem ordens, não pode dar...”. “Deitá-la aqui à minha porta?” Interrogava-se o procurador. “Ponham-na onde entenderem. Eu é que não posso fazer nada” - voltava a repisar Manuel Avelino. “ARRANJO ONDE DORMIR” Falámos à refém de questiúnculas caseiras sobre o ir para um Lar... Ela, que nunca havia chorado, aqui vieram-lhe as lágrimas e lamuriou: “isso é que não”. Já tinha passado algum tempo por um. Não gostara da experiência: “O comer era sempre arroz, arroz, não me dava com aquele comer”. Mas já estava pelos ajustes de ficar em casa de uma senhora do Camarnal. Seria uma porta de saída para os meses em que pertencesse aos filhos (americanos) tratarem dela. Para passar a noite de domingo, já tinha uma solução: “se não me vierem buscar, arranjo onde dormir”, - disse-nos a idosa que, com o sol a bater-lhe em cheio, se protegia cansadamente sustentando um guarda-sol que não chegava para dar sombra à saca onde trazia algumas coisa que comer. Mas as bananas aqueciam e a saca foi mudada para o outro lado, para a sombra. O que a saca, segundo nos disse, não trazia eram os medicamentos, mas lá foi dizendo que os tinha tomado de manhã. Mostrava-se esperançada em soluções: “se não me vierem buscar, vou para casa da Laura”, que nos disse ser sua segunda prima. Quem não lhe podia valer porque não tinha ordens era o procurador que continuava a lamentar-se: “Tenho aqui uma carta (a que tivemos acesso) a pedir-me para não meter o nariz onde não sou chamado... se não me posso meter na vida deles, por que ma colocam aqui à porta?”. Era quase meio dia e o sol a pique castigava aquela pobre viúva “despejada” ali para reivindicar o pagamento dos meses em atraso. INTERVENÇÃO DECISIVA DA GNR O lamentável espectáculo terminou cerca das duas horas do domingo, graças às boas diligências da GNR de Oliveira do Bairro que não deixou cair em saco roto este caso humano. Apareceu ali com uma ambulância dos bombeiros que a transportaram, com a sua cadeira e sua saca, para o hospital, com a finalidade de ser vista e medicada. O passo a seguir foi entregá-la aos cuidados da Misericórdia. Embora contra a sua vontade, ali irá ficar. De resto, os filhos, António e Dolores, em contacto com o procurador, puseram-se de acordo. Pagam tudo, as despesas todas, mas no Lar... e não mais em casa da irmã em Amoreira da Gândara. Este caso irá originar naturalmente um processo judicial. Armor Pires Mota

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